quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Agarro-me

Agarro-me às datas e reviro-as tentando dar-lhes sentido. Tento destrinçar as pontas, perceber fins e inícios, perceber onde acabo e onde começo. As pontas rodopiam na minha cabeça e enrolam-se num novelo emaranhado.
Uma vez, quando morava num terceiro andar no centro de uma aldeia, deixei cair um novelo por entre as grades da varanda, só pelo prazer de o poder voltar a enrolar. Foi uma carga de trabalhos trazer toda a lã de volta à varanda e emranhou-se de tal forma que nunca mais o consegui voltar a enrolar. Lembro-me da fúria da minha mãe quando descobriu e das palmadas que levei.
Parecida com a minha fúria de hoje ao descobrir as minhas almofadas espalhadas no chão do meu quarto, com a grande diferença que não houve palmadas para o adolescente infractor. Para quê as palmadas? Não enrolaram o novelo e não tirariam o pó das almofadas.
Como tudo isto me parece sem importância perante os problemas reais dos outros. Fins e principios na verdade, como a lã. E é agora que faço filosofia barata, ao dizer que o fim ou o princípio são exactamente iguais e decididos por nós no momento em que começamos, uma vez mais, a enrolar a vida.

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