segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Fraca

Às vezes ponho-me a pensar razões e não adianta. Ando em círculos dentro da minha cabeça. Faço círculos à volta do meu corpo.
No fundo tudo se resume a uma enorme e monumental preguiça. Não quero fazer as coisas. Luto para resistir e não consigo e perco.
Como é que os outros conseguem? Como é possível que há quem avance corajosamente contra tudo e todos e faça maravilhas?
E depois há as recriminações: fraca, cobarde, inútil!
Há dias em que não consigo de todo gostar de mim. Hoje é o dia.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

E se eu soubesse escrever ficção I

Ela aparece, virando a esquina da manhã, surgida do meio do nevoeiro. Dá-me dois beijos frios, frescos, despachados. "Então, como é que tens andado?" pergunta enquanto tira o casaco e se senta com gestos decididos.
Rodo a chávena do café, enquanto procuro uma resposta que não fosse mentira. "Tenho tanta coisa para te contar!" Digo, desviando-me para a frente. "Já comeste? Têm umas torradas fabulosas."
Não quero falar, não quero que ela saiba como os sonhos se esvairam, não lhe quero dizer que as promessas que fizemos escorregaram de mim.
"Então e tu, que tens feito?" Passo-lhe a bola. Mas sei que ma vai devolver num instante. Nunca perdeu a frontalidade nem a mania de fazer perguntas directas, a roçar a indelicadeza.
Olho-a nos olhos, verdes e frios e sei que não a trocava por nada. Deixo-me embalar pela narrativa dela e espero pela minha vez de desnudar a alma, sem medo, a saber que os sonhos estão guardados em nós e vão reaparecer mais vezes, nas manhãs de nevoeiro, quando for preciso refrescar o espírito.

Não se aflijam

Preparem-se para dar aula na próxima Sexta sobre a abordagem que pretendem seguir na vossa tese, definição, objectivos e limitações, baseados no Creswell e noutra bibliografia, mas não se aflijam.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Pólvora

O princípio da solução para o eterno problema da Vida, do Universo e de Tudo, o início de quarenta e dois é, obviamente, chocolate preto.

Pulos e saltos

"Ainda estás na fase de ele dizer salta e tu saltares" - diz-me a T. com a voz enrolada em escárnio mal disfarçado. Pois estou, penso para mim. Pois sou, penso depois. Ele, TU, toda a gente, penso na direção da T., que é das que melhor me conhece e menos pejo tem em me fazer saltar. E encho-me de novo de tristeza. Penso que para mim ninguém salta nunca... Depois penso que estou a ser injusta, na verdade, nunca peço que saltem por mim. Escondo-me quando preciso e não digo nada.
Mas a verdade, diz baixinho a voz com que discuto internamente, é que não posso pedir. Os saltos ou se dão de vontade ou não valem a pena. E esses são sentidos e não pedidos.
Penso no meu Descartes pessoal. Devia ter uns oito anos quando duvidei de tudo... suponho que não devia ter nada para ler. E se for tudo falso, e se eu não existir? O Universo é muito maior quando se tem oito anos. E se eu estiver errada? Não tenho maneira de saber, não consigo ver dentro da cabeça dos outros, só da minha... E há dias em que odeio tanto a minha cabeça... Hoje é o dia...

Guerra Aberta

O Universo continua em guerra comigo. Sinto que observa de perto todos os meus movimentos, sedento de me corrigir cada passo. Raivoso e maquievelico, não deixa escapar uma. E eu, humildemente, vou aprendendo, embora pareça que nunca sei o suficiente, que estou destinada a cometer erros, sempre e sempre.
Estou cansada de aprender. Estou cansada de ter de refazer os meus passos a cada momento. Estou cansada de querer bem e fazer mal. Estou cansada de ser parva. De mendigar carinho. De me sentir sozinha. Vou parar de fazer aos outros o que gostava que me fizessem a mim, até porque é inutil, ninguém faz mesmo.
Estou, neste momento, a declarar uma cessar-fogo unilateral com o Universo. Por mim, chega. Não faço mais. Não corro, não sugiro, não faço. Estou aqui e sempre aqui estarei, mas cada passo que dou é um enorme risco de levar um estalo. Não me dou mais. Melhor, dou mas não ofereço.
Eu sei que saro depressa e recupero depressa, mas os erros deixam marcas e as cicatrizes doem todas juntas com o mau tempo.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Só estar

Gosto das noites calmas, a ver televisão. Olho para trás e acho que nao tive noites destas suficientes. Na verdade foram tão poucas aquelas em que o fiz na companhia de outros adultos que acabo a recordar com saudade o Verão em que vi uma telenovela com a minha mãe, ou as tardes de Sábado passadas a ver o Ídolos com o meu pai. Se bem que, agora que penso nisso, acho que preso à cama, à espera da maré, não deve ter ligado muito ao programa.
Não interessa agora, interessa só que gosto de coisas simples. Que tenho saudades de noites de Inverno, com a chuva a cair lá fora e eu a ver televisão, acompanhada. Saudades do futuro, diziam os Trovante. Será?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Vinte e Dois

Hoje procuro em mim respostas e razões. Não as encontro e sinto-me vazia e falhada.
Há quinze anos acordei nervosa, cedinho, para ser penteada com mil ganchos e cuidados. Abrimos um vinho velho e que já estava passado do prazo, tirámos fotografias cuidadas a registar o início de uma etapa que, na realidade e um pouco em segredo, já tinha começado uns meses antes. Lembro-me de que estava feliz e me sentia lindíssima.
Foi uma manhã de sobressaltos e e semi-confusões, sobre as quais nunca reflecti nos catorze anos seguintes em que assinalei a data. A minha irmã discutiu com o marido, eu zanguei-me com a minha avó, tu chegaste atrasado. TU. Eras o meu Universo na altura. Procuro as esperanças e as certezas que me enchiam há quinze anos. Esfumaram-se, como algumas das pessoas que estiveram connosco nesse dia, demasiadas.
Se voltasse atrás voltava a fazer o mesmo, talvez com menos nervos, talvez com mais angústias. Os anos que se seguiram foram anos de crescimento, descoberta e conquistas que fizeram de nós o que somos hoje. Foram anos de companheirismo e com épocas de felicidade intensa.
Há quinze anos não fiz promessas, não precisava, repleta que estava de certezas, limitei-me a declarar a minha vontade em estar contigo. Hoje prometo, para sempre, aconteça o que acontecer, amo-te e vou amar-te, porque não consigo imaginar-me de outra forma.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Vazio

Mais do que saber-te sempre aí, hoje gostava de te sentir aqui.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Os Grandes Amores não Morrem Nunca.

É uma impossibilidade física. Amar implica dar-nos, entregar-nos a alguém, incorporar o outro em nós. Não se pode perder isso. Por mais que nos afastemos seremos sempre parte um do outro. Por mais que pensemos que acabou, que não dá mais para partilhar a vida e o espaço, deixar de amar é impossível. E assim soltamos os amores sem os perdermos e vamos acumulando afectos por aí. Afectos grandes, profundos e, acima de tudo, eternos.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Agarro-me

Agarro-me às datas e reviro-as tentando dar-lhes sentido. Tento destrinçar as pontas, perceber fins e inícios, perceber onde acabo e onde começo. As pontas rodopiam na minha cabeça e enrolam-se num novelo emaranhado.
Uma vez, quando morava num terceiro andar no centro de uma aldeia, deixei cair um novelo por entre as grades da varanda, só pelo prazer de o poder voltar a enrolar. Foi uma carga de trabalhos trazer toda a lã de volta à varanda e emranhou-se de tal forma que nunca mais o consegui voltar a enrolar. Lembro-me da fúria da minha mãe quando descobriu e das palmadas que levei.
Parecida com a minha fúria de hoje ao descobrir as minhas almofadas espalhadas no chão do meu quarto, com a grande diferença que não houve palmadas para o adolescente infractor. Para quê as palmadas? Não enrolaram o novelo e não tirariam o pó das almofadas.
Como tudo isto me parece sem importância perante os problemas reais dos outros. Fins e principios na verdade, como a lã. E é agora que faço filosofia barata, ao dizer que o fim ou o princípio são exactamente iguais e decididos por nós no momento em que começamos, uma vez mais, a enrolar a vida.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

21 Anos Depois

Ainda eu não tinha 21 anos, aliás tinha 18 e os 21 pareciam-me longíssimo, quando saí do autocarro ao lado da Reitoria, dando início a uma nova e, à altura, mais importante etapa da minha vida. Estava um dia lindo de Sol, éramos seis e todos tínhamos entrado para a Faculdade. Penso muitas vezes que devia ter tropeçado no degrau do autocarro e batido com a cabeça ou torcido um pé. Talvez assim estivesse mais preparada para o monumental fracasso que se seguiu. Mas não tropecei, saltei alegremente para o passeio e verifiquei que tinha entrado para a minha primeira opção, tendo logo de seguida recebido um abraço apertado do homem que viria a ser o primeiro da minha vida.

Naquele primeiro dia o Futuro era maravilhoso e tinha finalmente chegado. Estava ali, e eu podia tocar-lhe. O Céu estava bem azul, mas quando olho para trás tenho a certeza de que o vi cor-de-rosa. Seguiram-se oito anos de aprendizagens várias e formação de personalidade, que terminaram com o nascimento do meu filho e uma admissão de derrota concretizada na mudança de curso e de instituição.

Vinte e um anos depois estaciono o carro perto da paragem do autocarro e saio cuidadosamente, com muita atenção para não tropeçar. Estou sozinha, mas não me sinto sozinha. Em vez de colegas a iniciarem comigo o percurso, tenho família e amigos a apoiarem-me os passos. O Céu continua azul, mas o Futuro foi ontem e, felizmente foi de todas as cores. Foco-me no hoje e nas possibilidades que permite e vejo-o em tons laranja e castanhos, quentes e suaves. Tento, com muita força não pensar no amanhã.

Sorrio aos caloiros pintados de azul que passam por mim e recordo o sentimento de que a vida começa aqui, sem saudade. Começou sim, mas voltou a começar muitas vezes depois e começa hoje, de novo. Sem tropeçar, mas ciente dos riscos, avanço devagar em direcção à primeira aula. Cheia de medo, nasço mais uma vez.

domingo, 27 de setembro de 2009

Eleições

Pela primeira vez, desde que voto (e agora que penso nisso, desde sempre) vi os resultados das eleições sozinha. E a sentir-me sozinha. Talvez porque tivesse criado expectativas, talvez porque adoro comentar, talvez porque os resultados me fizeram querer saltar pró colo de alguém e esconder-me, o certo é que senti a falta de ter outros adultos comigo.
Foi assim hoje, será assim de novo. As boas notícias são que, apesar do tom mariquinhas deste poste, não desatei a chorar e o telefone tocou 30 segundos depois das 20h. Asas azuis, portanto!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Recomeçar

É por vezes mais difícil do que começar. Caminhamos com o peso dos erros passados e exigimos de nós próprios que, no minímo, não os repitamos. Mas às vezes o fim é tão claro que agarrarmos o passado apenas modifica as recordações e as torna amargas.
Portanto aqui estou eu, renascida das cinzas e pronta pra recomeçar, com a noção de que, para além de viver e amar, preciso de escrever.